Artigo
Entre o acampamento e a Presença a escolha é nossa
Tenho dois medos estranhos e distintos: atravessar pontes (e similares) e injeção. Mesmo que tente, frequentemente, dizer pra mim mesmo que não deveria ter tanto medo, e que tudo vai dar certo, algo dentro de mim diz exatamente o contrário.
Esse medo me levou para (infrutíferas) seções no psicólogo quando criança. Não posso negar que de certa forma melhorei. Quando criança não passava por ponte alguma, mesmo com ajuda. Hoje em dia, com muita oração e fazendo o possível (se não for daquelas balançam) eu passo. Injeção quando se torna indispensável eu tomo, ainda que morra de vergonha de quase deixar a enfermeira preocupada com meu estado, que deve ser deplorável.
Já me perguntei diversas vezes porque não me liberto desses medos. Eles são bobos e nem há um perigo real – ainda que uma ponte possa realmente cair. A verdade é que sentir medo é confortável. Não consigo me imaginar num mundo onde passar na ponte é algo banal, muito menos que posso levar uma agulhada sem chorar. É, simplesmente, louco, mas preciso dizer a verdade. Vivo bem com meus medos. Enfrentá-los seria algo acima das minhas forças (e realmente é).
Pensei nisso durante a noite, enquanto tentava entender porque não entro no Santo dos Santos. Essas coisas me ocorreram depois da palavra de domingo da pastora Elisa e durante, e depois, da vigília pré-feriado.
Entendi perfeitamente o sentimento do povo ao pé do Sinai. Parece razoável – neste caso, o medo. Para nós parece estúpido não ter ido ao encontro de Deus. Porém permita-me dizer uma coisa: pensamos assim porque vemos além do que os olhos de medo daqueles homens conseguem ver. Apenas porque conhecemos o final desta história. Já sabemos o que aconteceria a eles caso tivessem enfrentado os raios e trovões e ido até em cima. Mesmo assim, acredito que muito de nós não subiria. Pior ainda, muitos de nós continuamos com medo de escalar nossa própria montanha.
Enquanto estava orando durante a vigília me lembrei de uma música antiga do Petra chamada Take me in. Ela é um pedido, teoricamente, simples. Leva-me além das multidões e dos sacerdotes que Te louvam. Leva-me ao Santo dos Santos. Pegue a brasa, limpe meus lábios, aqui estou. Fiquei um tempo ali na presença, cantando essa música e tentando entender porque, afinal, não piso no Santos dos Santos.
O povo teve medo de subir o Sinai, porque acreditava que morreria se o fizesse. Nós pedimos para ver a Deus em nossas orações e canções. Mas creio que muitas vezes a acusação nos faz pensar, como os israelitas, que não somos dignos, puros, santos ou espirituais o suficiente para adentrar no Santíssimo lugar.
No tabernáculo havia um lugar santo, onde os sacerdotes queimavam incensos e adoravam ao Senhor (Êxodo 26:31-33) . Mas tinha outro lugar, o Santo dos Santos, onde apenas o sumo sacerdote ia uma vez ao ano fazer a expiação dos pecados do povo. Essa área restrita era onde ficava a arca da aliança que simbolizava a presença do Altíssimo (Levitico 16).
O Santo dos Santos é a presença propriamente dita. Quem estava no culto, que a Pastora Elisa trouxe a palavra, deve lembrar que cantamos: o que tua Gloria fez comigo. E, foi exatamente sobre isso que a Pastora falou. E de onde saiu à pergunta: Por que não entro no Santo dos Santos?
Comecei falando sobre o medo não por acaso. Foi ele o responsável por afastar os israelitas do Monte Sinai. No livro “um coração ardente”, John Bevere fala sobre o que aconteceu naquele dia. Para o autor, a razão de eles preferirem mandar Moisés ir sozinho ao encontro de Deus se dava pelo fato de que apesar de terem visto muitos milagres, o povo não queria expor seus pecados – que certamente seriam expostos na presença Santa de Deus. O povo amava seus próprios prazeres.
Eu me reconheço e me identifico com esse povo. Assim como me sinto, de certa forma, mais confortável com meus medos do que os enfrentando também prefiro manter meus próprios prazeres a fazer plenamente a vontade de Deus e me expor em Sua presença.
Imagine uma vida completamente controlada por Deus, onde não há tempo para olhar pra mim mesmo, nem de perder tempo com minhas pequenices. Onde não há ira, justiça própria, onde os outros estão sempre em primeiro lugar, não há julgamentos, nem nada que possa interferir no meu relacionamento com Deus? Parece ótimo, mas na realidade tenho medo deste lugar.
Gostamos de manter certo controle de nossas vidas, ainda que – a devido tempo, nossos esforços se mostrem inválidos. Quem pisa no Santo dos Santos vive uma vida de plena obediência e confia plenamente em Seu Deus e não na força das próprias mãos.
Com todas essas coisas passando em minha mente e sentindo a doce presença do Senhor, me ajoelhei, mais uma vez, para orar. As palavras de Isaías ecoaram dentro de mim quando o profeta viu ao Senhor e declarou: Ai de mim! Estou perdido! Pois sou um homem de lábios impuros e vivo no meio de um povo de lábios impuros; e os meus olhos viram o Rei, o Senhor dos Exércitos! (Isaías 6:5).
E com todas as forças (e vergonha) que havia dentro mim eu orei ao Senhor: Ai de mim! Sou uma mulher de lábios impuros e vivo no meio de um povo de lábios impuros; e sequer tenho o verdadeiro desejo de ver a Deus.
Como o povo de Israel, temos uma escolha diária a fazer. Subir a montanha ou ficar aos pés dela. John Bevere diz: Se você subir a montanha, você é mudado. Se você permanecer ao pé dela, como Arão fez, a imagem que você tem de Deus é que muda.
Deus está nos chamando à presença. O que temos feito? Subimos o monte (pisamos no Santíssimo Lugar), ou permanecemos onde estamos?
Os que desejam pisar ardem e queimam dia e noite pelo desejo de encontrar com o Senhor mesmo que brevemente.
Os que, verdadeiramente, desejam pisar no Santo dos Santos, O buscam de todo coração. Deus não se mostra em bíblias e bocas fechadas. E principalmente em corações impuros, apegados as coisas deste mundo.
Adoramos, louvamos, andamos com Deus, fomos salvos, mas escolhemos o conforto de viver longe do Santo dos Santos. Ficamos como o povo israelita, no acampamento. Estamos salvos através do sangue de Cristo, vamos à igreja, exercemos ministérios, fazemos de tudo, mas refutamos a Glória. Como disse o Pastor Israel, não é uma questão de estarmos mal diante de Deus, mas de ouvir Sua voz chamando a presença.
John Bevere usa o capítulo: Uma divindade maleável para relatar a experiência do povo ao pé do Sinai. Quem não vai a presença tem sua visão de Deus mudada. Aquele que sobe é transformado!
O povo, ao ver que Moisés demorava a descer do monte, juntou-se ao redor de Arão e lhe disse: “Venha, faça para nós deuses que nos conduzam, pois a esse Moisés, o homem que nos tirou do Egito, não sabemos o que lhe aconteceu” (Êxodo 32:1).
Nossas bíblias nos levam a crer que o povo queria um deus com letra minúscula (como nos referimos a falsos deuses), porém, no original a palavra que foi usada é Elohiym, segundo Bevere. Esta mesma palavra aparece 32 vezes no capítulo um de Genesis. Outras 250 vezes ela é empregada no Antigo Testamento para descrever falsos deuses.
O povo pediu por um deus, e Arão (que deveria ter subido o monte junto com Moisés) pediu que o povo trouxesse ouro (Êxodo 32:2).
Arão moldou um deus para o povo. Ele os recebeu e os fundiu, transformando tudo num ídolo, que modelou com uma ferramenta própria, dando-lhe a forma de um bezerro (Êxodo 32:4).
Vendo isso, Arão edificou um altar diante do bezerro e anunciou: “Amanhã haverá uma festa dedicada ao Senhor” (Êxodo 32:5). Aqui a palavra Senhor em hebraico é Jeovah ou Yahweh, isso mesmo. O nome do próprio Deus de Israel. Aquele mesmo que de tão sagrado o povo não ousava falar.
O sumo sacerdote Arão chamou um bezerro de Yahweh! Criou para o povo um deus maleável. Um deus que não os causava medo.
Eles chamaram esse bezerro pelo nome do Senhor, reduzindo Sua glória ao nível de uma imagem de um bezerro dourado, diz Bevere.
O povo fez o que havia aprendido no Egito. Adorar animais e insetos. Reproduziram a cultura a qual estavam inseridos. E quanto a nós? Nossa cultura adora o eu. O eu nos move. Tomamos nossas decisões e mantemos nossa vida de acordo com nossos próprios pensamentos e vontades.
Achamos que entrar no Santo dos Santos tem algo a ver com nós mesmos. Temos medo, achamos que nossos pecados, imaturidade ou qualquer outra coisa nossa, nos impede de pisar lá.
Temos medo do desconhecido. Como seria uma vida sem medo de ponte ou injeção? Como seria minha vida após pisar no Santíssimo Lugar?
Uma vida onde não há eu. Então Jesus disse aos seus discípulos: “Se alguém quiser acompanhar-me, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me (Mateus 16:24).
E isso, nos apavora.
Não se trata apenas do que fazemos em nosso dia a dia. Vamos continuar tendo que ir a escola, faculdade, trabalho, lavando a louça e pagando as contas.
Mas diferente do que vivemos agora, seriamos totalmente do Senhor, e deixaríamos nossos prazeres de lado. E isso, nos causa medo. Queremos manter o controle. Não queremos dar a Deus Aquilo que nos pede: negue-se a si mesmo. Como os israelitas queremos a certeza (conforto) de um bezerro de ouro que vai onde desejamos, e não nos leva a lugar algum.
Temos, sim, lábios impuros e vivemos em meio ao povo de lábios impuros. Mas, Deus nos quer na presença apesar de quem somos por quem Ele é. Deus nos vê com amor, porque Ele é amor.
O Santo dos Santos não é lugar de perfeitos. E sim, de apaixonados, quebrantados, de ovelhas que ouvem a voz de Seu pastor os chamando a Sua santíssima presença.
Naquele momento, o véu do santuário rasgou-se em duas partes, de alto a baixo. A terra tremeu, e as rochas se partiram (Mateus 27:51).
Isso aconteceu durante a crucificação de Cristo. Não contente em apenas nos salvar, Ele nos deu livre acesso a presença. E o lugar, que antes era apenas para o sumo sacerdote, agora está aberto.
Temos livre acesso a presença, não para uma visitinha rápida, mas para algo muito maior e melhor.
Quem já pisou no Santo dos Santos
Em outro lugar não sabe viver
E onde estiver, clamar pela glória
A glória de Deus
Apesar de nossos medos as cortinas abertas são um convite para entrarmos lá.
O Senhor nos conhece, sabe de nossas limitações e imperfeições. Ele conhece nossos pecados e iniqüidades. A diferença é como Ele olha para nós. Ele nos vê através da imagem redentora da cruz.
Claro que a exigência para viver na presença é alta. Não se pode entrar no Santo dos Santos de qualquer jeito. Mas foi o próprio Deus que rasgou o véu. Ele que nos permitiu entrar lá.
Precisamos negar a nós mesmo e seguir a direção do Pai. Devemos estar dispostos a ouvir a voz de Deus e nos achegarmos à presença. É tempo de pisar no Santo dos Santos.
O povo no deserto foi chamado à presença. E, eles escolheram o acampamento. Deus tem nos chamado a melhor parte, a Sua presença. Onde iremos ficar?
Thais Jordão, jornalista.
Igreja de Florianópolis – Proclamando a Verdade