Sobre exercer o chamado com amor
O Senhor definiu o chamado de cada um de nós quando nos elegeu, ou seja, antes que o mundo fosse mundo. Logo, o Senhor se revela com grande prazer a todos que se achegam com sinceridade. O modo geral com que devemos exercer todas as coisas já foi ensinado nas Escrituras. A Bíblia é o grande manual de como agradar a Deus, exercer a Sua vontade e aquilo que Ele confiou a nós. Mais importante do que fazer, é fazer com excelência. Um único ato realizado com amor e excelência nos bastidores tem muito mais peso eterno do que mil atos vazios realizados sobre um palco diante de uma grande plateia.
E o que é exatamente excelência? O livro de Timóteo, que serviu em Éfeso, ensina muito sobre atuação ministerial prática. Paulo, o maior escritor do Novo Testamento, abraçou esse discípulo e suas palavras até hoje falam aos nossos corações. Vejamos:
“Partindo eu para a Macedônia, roguei-lhe que permanecesse em Éfeso para ordenar a certas pessoas que não mais ensinem doutrinas falsas,
e que deixem de dar atenção a mitos e genealogias intermináveis, que causam controvérsias em vez de promoverem a obra de Deus, que é pela fé. O objetivo desta instrução é o amor que procede de um coração puro, de uma boa consciência e de uma fé sincera” (1 Timóteo 1:3-5).
Sem amor, benignidade e fé não há serviço com excelência. Deus não vê o serviço como o mundo o vê. O mais importante para Deus não são os resultados pelos resultados, nem mesmo rendimentos ou números. O mais importante para Deus não é o quão bem desempenhamos uma tarefa. Antes, o principal é se nesse desempenho há amor, benignidade e fé. Podemos ser reconhecidos como pessoas de grandes feitos, mas, se nossos frutos não tiverem o sabor dessas três características unidas, pouco valerão no céu. Somos conhecidos pelos nossos frutos, e não simplesmente por termos dado ou não frutos. Pense nisso! Você não será conhecido por ter dado frutos, mas por quais frutos foi capaz de gerar. Mais vale apresentarmos ao Senhor um fruto saboroso de amor, benignidade e fé do que uma cesta cheia de frutos amargos ou sem gosto, sem graça. Por isso, uma tarefa não tão bem executada aqui aos olhos naturais, mas em cujo desenvolvimento tenham sido encontrados amor, benignidade e fé, terá honra aos olhos do Senhor e seu galardão será tremendo.
A busca por execuções puramente perfeitas nos leva a competições e a padrões helenísticos dentro da casa de Deus, fazendo dela um templo grego de ostentações e, da corrida da fé, uma prova olímpica. Entretanto, quando todos trabalham tendo amor, benignidade e fé como prioridades, a perfeita execução vem à maneira de Deus. Note o frescor que essa compreensão lança ao modo como encaramos o que fazemos para Deus. Estamos acostumados a enxergar o serviço do ponto de vista humano, carnal, mas Deus quer mostrar como Ele o vê. Pensemos portanto na eternidade, no que vale para a eternidade e no que realmente importa para Deus.
Por exemplo, é notável e importante termos eficientes mecanismos de atuação evangelística a todo vapor. Mas nada toca mais eficientemente o coração de um não crente do que perceber que a igreja serve com amor. Com amor, benignidade e fé. Com o fruto do Espírito. Não se trata de puramente exercermos os dons do Espírito Santo, mas de exercermos Seus dons com Seu fruto e através do Seu fruto. Isso move os céus. Isso é avivamento.
Realidades inseparáveis
Conforme Jesus afirmou, a maneira como convivemos com nossos irmãos não reflete ou transparece maneira como nos relacionamos com Ele – é a própria. Talvez nos estranhe o fato de que, quando agimos de determinado modo com o próximo, estamos agindo do mesmo modo com Ele. A verdade é que se trata de uma morte para si muito mais profunda e poderosa do que imaginamos. O exercício do amor exige morte, e muito agrada a Deus nos ver amando e exercendo o amor. “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida pelos seus amigos” (Jo 15.13).
Somos capazes de pedir ao Senhor que tenhamos um amor por Ele capaz de morrermos como mártires, mas não conseguimos dar a vida pelos nossos amigos. Não conseguimos negar nossos caprichos pelos caprichos dos nossos amigos. Não conseguimos diminuir nossos preciosismos em prol dos preciosismos dos nossos amigos. Alguém um dia nos disse que “não podemos ser bobões” e, com isso, entendemos que não podemos andar a segunda milha. O reino de Deus é como uma criança que fica triste quando quebra o carrinho do amigo e então empresta o seu carrinho favorito para ele brincar. Se não temos um coração de mártir com relação ao próximo, que vemos, como poderemos ter um coração de mártir com relação ao Senhor, que não vemos? “Se alguém afirmar: ‘Eu amo a Deus’, mas odiar seu irmão, é mentiroso, pois quem não ama seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê” (1 Jo 4.20).
Porque Ele é amor, e existe uma expectativa de Deus para que sejamos iguais a Ele, ao buscarmos tal semelhança O fazemos muito feliz. Mas, não é estando diante dEle que expressamos essa semelhança, pois não é Ele que nos irrita, que nos desaponta, que nos fere; Ele também não nos magoa, não nos decepciona, não pisa no nosso calo, não fura a nossa fila, não nos fecha no trânsito, não fala alto demais nem nos enche de perguntas pela manhã, não bate a porta do carro exageradamente, não entra com o pé sujo em casa, não esquece de comprar pão, não dá palpites vazios, não é enxerido. Ele é Deus, é gentil, é amado. Logo, não é no nosso relacionamento com Deus que se mede a nossa semelhança com Ele, nem é ali que a morte da nossa maldita natureza é exigida. Isso acontece no relacionamento com o próximo. É no relacionamento com o próximo que temos as grandes chances de agradarmos a Deus, pois é quando enfim podemos escolher ser como Jesus. Por isso houve tanta importância em Jesus dizer:
“Como o Pai me amou, assim eu os amei; permaneçam no meu amor. Se vocês obedecerem aos meus mandamentos, permanecerão no meu amor, assim como tenho obedecido aos mandamentos de meu Pai e em seu amor permaneço. Tenho-lhes dito estas palavras para que a minha alegria esteja em vocês e a alegria de vocês seja completa. O meu mandamento é este: amem-se uns aos outros como eu os amei. Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida pelos seus amigos”(João 15:9-13).
“Este é o meu mandamento: amem-se uns aos outros” (João 15:17).
Além das relações fraternais, Jesus enfatizou também o amor pelos inimigos:
“Mas eu digo a vocês que estão me ouvindo: Amem os seus inimigos, façam o bem aos que os odeiam, abençoem os que os amaldiçoam, orem por aqueles que os maltratam” (Lucas 6:27-28).
O amor permeia os ensinos do Novo Testamento, pois Deus é amor. Deus é amor e nos chama a amar como Ele amou, a sermos iguais a Ele. Por isso, um ótimo exercício seria trocarmos “amor” pelos nossos nomes em 1 Co 13 e analisarmos se estamos de acordo com o texto. Convido você a preencher os espaços em branco com o seu nome:
O(a) ______ é paciente, o(a) ______ é bondoso(a). Não inveja, não se vangloria, não se orgulha.
Não maltrata, não procura seus interesses, não se ira facilmente, não guarda rancor.
O(a) _______ não se alegra com a injustiça, mas se alegra com a verdade.
Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. (1Coríntios 13:4-8).
Jesus preencheu os espaços acima com excelência diante de amigos e de inimigos. E nós? Como estamos de acordo com o dom supremo? Deus e amor são uma simbiose, e é por isso que o amor cobre uma multidão de pecados. Quando amamos, relevamos e perdoamos, pois não nos ensoberbecemos, não nos ufanamos, não buscamos os próprios interesses. Diversas vezes direcionamos o texto acima aos relacionamentos conjugais, mas o texto trata do amor ágape, o amor de Deus, aquele do qual os demais provêm. Com todos, e em todas as circunstâncias, devemos buscar com zelo esse dom caso desejemos conferir valor eterno aos nossos feitos ministeriais.
Agora veja como 1 Co 13.9-12, o texto que imediatamente segue o anterior, parece estar fora de contexto, à parte, aparentemente “quebrando o clima” das palavras do apóstolo:
“Pois em parte conhecemos e em parte profetizamos; quando, porém, vier o que é perfeito, o que é imperfeito desaparecerá. Quando eu era menino, falava como menino, pensava como menino e raciocinava como menino. Quando me tornei homem, deixei para trás as coisas de menino. Agora, pois, vemos apenas um reflexo obscuro, como em espelho; mas, então, veremos face a face. Agora conheço em parte; então, conhecerei plenamente, da mesma forma como sou plenamente conhecido” (1 Coríntios 13:9-12).
Na verdade, tudo faz sentido, pois o amor caminha com a maturidade. São inseparáveis, pois tratam da pura expressão de Deus; logo, não havia como ser diferente. A infinita maturidade de Deus faz com que Ele seja indissociável do amor. Maturidade inevitavelmente nos levará a amarmos. Lembre-se de que, na Betel espiritual, a primeira etapa de um chamado, recebemos os cabelos brancos de Jesus – a sua maturidade. Há muito poder no ciclo maturidade-amor e, quando descobrimos isso, ninguém pode nos deter: ao amadurecermos, amamos mais e, por isso, tornamo-nos mais maduros. Esse é um dos “loops infinitos” favoritos de Jesus.
De nada adiantam nossas atividades na vida da igreja se não amarmos e não escalarmos níveis de maturidade diariamente. Não me refiro aqui apenas à máxima “se for fazer, que seja com amor!” – é muito mais do que isso. O chamado de Deus ao dom supremo nos exorta a amarmos mesmo nos momentos corriqueiros em que não estivermos exercendo qualquer atividade. Em todo tempo devemos amar, este é o maior ministério que o Senhor nos confiou! Toda interação com o próximo é uma ministração, foi assim que Jesus viveu. Ele não perdia tempo, não perdia uma conversa sem que destilasse o caráter do Pai. Era sempre profundo, e o amor estava sempre presente.
Esse estilo de vida é muito mais minucioso e sutil do que aquele com que a maior parte da igreja ocidental está acostumada a viver. Mas isso está prestes a mudar! Deus é amor e espera que sejamos semelhantes a Ele. O amor é muito mais sério do que imaginamos. Devemos ser amor também. Que tenhamos isso por revelação!
Gabriel Ferrari – Professor universitário, ministro de louvor e diácono dos montes
Nação dos Montes – Unidos pelo mesmo amor, Jesus