E, passando Jesus, viu um homem cego de nascença. E os seus discípulos lhe perguntaram, dizendo: Rabi, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego?Jesus respondeu: Nem ele pecou nem seus pais; mas foi assim para que se manifestem nele as obras de Deus. Convém que eu faça as obras daquele que me enviou, enquanto é dia; a noite vem, quando ninguém pode trabalhar. Enquanto estou no mundo, sou a luz do mundo. Tendo dito isto, cuspiu na terra, e com a saliva fez lodo, e untou com o lodo os olhos do cego. E disse-lhe: Vai, lava-te no tanque de Siloé (que significa o Enviado). Foi, pois, e lavou-se, e voltou vendo. (João 9:1-7)
“…mas foi assim para que se manifestem nele as obras de Deus.”
Um homem nasceu cego para que no momento certo o poder de Deus fosse manifestado. Certamente aquele homem até então não pensava que a sua adversidade serviria para a manifestação do Filho de Deus. Como de costume, ele deveria se questionar qual pecado seus antepassados haviam cometido para que tal mal o sobreviesse, pois até os próprios discípulos perguntaram a Jesus: Rabi, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego? Isso porque eles tinham uma mentalidade de que cegueiras, doenças e afins vinham por conta dos pecados, sejam deles ou de seus pais. Veja êxodo 20:5:
“Não te prostrarás diante deles nem lhes prestarás culto, porque eu, o Senhor,o teu Deus, sou Deus zeloso, que castigo os filhos pelos pecados de seus pais até a terceira e quarta geração daqueles que me desprezam”.
Mas na verdade, nem o homem ou seus pais pecaram. Deus criou aquele homem cego de nascença para a manifestação de sua glória.
Certa vez, um homem justo e abençoado passou por severas tribulações para que a glória do Senhor também fosse manifestada através da vida dele, dessa vez, não por milagres ou maravilhas, mas por fidelidade. A glória silenciosa manifestada através de um coração humano que escolheu ser fiel a Deus mesmo quando Ele não o abençoa.
Não é possível dizer qual o nível de conhecimento de Deus que o homem cego de Siloé tinha, mas acerca de Jó podemos dizer que ele temia a Deus. No primeiro capítulo do livro de Jó, Satanás desafiou a Deus ao sugerir que Jó somente vivia de uma maneira reta e temente a Deus porque Ele o abençoava e guardava do mal, e para que provasse seu ponto, pediu permissão para tocar em Jó, sem contanto, retirar-lhe a vida.
Como sabemos, Jó perdeu tudo e sofreu fisicamente por muito tempo. Com todas as notícias ruins que chegavam até ele, Jó fez uma coisa que muitos de nós deixamos de fazer quando notícias ruins chegam para nos abalar: Jó PONDEROU.
“Ao ouvir isso, Jó levantou-se, rasgou o manto e rapou a cabeça. Então prostrou-se no chão em adoração, e disse: “Saí nu do ventre da minha mãe, e nu partirei. O Senhor o deu, o Senhor o levou; louvado seja o nome do Senhor “. Em tudo isso Jó não pecou nem de nada culpou a Deus”. (Jó 1 20-22)
Ele sabia que todas as coisas que havia conquistado eram por intermédio de Deus e tinha ciência que tudo era dEle, e no temor do Senhor, ele o adorou. Através do sofrimento de Jó, Deus foi glorificado e Satanás mais uma vez humilhado.
Como filhos, queremos que Ele cumpra em nós e através de nós o seu querer, mas provavelmente imaginamos coisas do tipo um chamado ministerial, o Ide as nações, curas, milagres e maravilhas, certamente todas essas coisas são da vontade de Deus, pois a sua própria palavra enfatiza isso. Ocorre que a sua vontade em nossas vidas pode ser muito mais profunda e muitas vezes difícil para a nossa mente humana discernir e mais ainda, aceitar o Seu querer com alegria.
Um homem viveu cego por muitos anos de sua vida, Jó sofreu coisas terríveis, Jesus, o próprio Deus, foi um homem de dores que sabe o que é padecer (Isaías 53: 3-11) e nEle foram cumpridas todas as coisas. Diante das situações que a Bíblia nos relata, devemos ponderar sobre as nossas tribulações, pois elas também são para a manifestação da glória de Deus.
Talvez por décadas de exposição à teologia da prosperidade, somos inconscientemente levados a pensar que viver uma vida reta e de obediência a vontade de Deus gere para nós benefícios imediatos. E quando enfrentamos situações contrárias daquilo que imaginamos ser a vontade dEle temos pensamentos do tipo “como pode isso acontecer se estou fazendo tudo certo! Senhor, onde foi que errei?”.
Muitas vezes oramos e pessoas não são curadas, elas morrem. Podemos pensar “mas Senhor, a cura teria gerado conversões, seu nome seria exaltado e não teríamos passado pela dor da perda”, mas aquela não era a vontade de Deus. E ainda assim, devemos ter em mente que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus e são chamados segundo o seu propósito (Romanos 8:28). Talvez só na eternidade iremos entender tais mistérios.
Em João 11 observamos que todos queriam que Jesus corresse a tempo de curar Lázaro de sua doença. Maria e Marta sabiam que Jesus amava Lázaro e que ele poderia curá-lo, na verdade elas confiavam nisso, suas expectativas estavam na cura, mas Deus tinha planos maiores. Imaginem a frustração daquelas irmãs em relação a Jesus! Perceba como isso é exprimido na fala de Marta: “Então Marta disse a Jesus: — Se o senhor estivesse aqui, o meu irmão não teria morrido!” – João 11:21. Elas sabiam que no fim de todas as coisas seu irmão iria ressuscitar juntamente com todos os mortos em Cristo, mas não pensavam que a vontade de Deus era que Lázaro morresse e que sua morte seria para a manifestação da glória do Pai através do Filho.
Para nós que temos a história completa é muito fácil pensar “calma, Marta! Confie em Jesus”, mas ela não tinha ciência do todo. Talvez hoje no meio da sua tribulação você esteja pensando “Senhor, se você tivesse atendido ao meu pedido, tal situação não teria acontecido”, e nisso eu te digo: Calma! Se você está submisso à vontade de Deus e confia em seu eterno amor, PONDERE acerca da sua situação e tenha convicção que de alguma forma Deus será glorificado e é isso que importa. Se deixe participar da honra de manifestar o poder de Deus através da sua vida, mesmo que essa manifestação seja silenciosa aos seus ouvidos e incompreensível a sua mente, saiba que ela pode ter um peso eterno de glória.
O sábio Salomão em Eclesiastes 7 diz: “No dia da prosperidade, goza do bem; mas, no dia da adversidade, considera em que Deus fez tanto este como aquele, para que o homem nada descubra do que há de vir depois dele”. Veja, Deus não perdeu o controle, Ele fez tanto o dia bom, como o dia mal. Que não sejamos filhos imaturos que pensam que por serem filhos, sempre serão super-poderosos e que no fim do dia tudo vai ser maravilhoso. Saia do engano! Sim, em Cristo somos mais que vencedores, mas vencedores nEle e não a nossa maneira.
Tenhamos em mente: EM CRISTO NÃO HÁ PERDAS! Por mais que aos nossos olhos naturais algo tenha morrido, saiba que Deus não desperdiça nada. Quando entregamos a nossa vida ao Senhor e dizemos “que a minha vida seja para a Tua glória”, Ele acredita. Talvez não seja a manifestação através de sucesso, bens, curas, mas talvez seja através de uma vida devota e fiel, mesmo em meio a muita dificuldade. A maneira como Ele irá manifestar a sua vontade cabe exclusivamente a Ele. A nós, cabe continuar o amando e confiando no seu caráter, ainda que as coisas aparentemente não se resolvam como esperamos.
Na história de José, no livro de Gênesis, observamos que José passou por muitas injustiças e provavelmente enquanto as vivia ele deveria pensar “certamente o Senhor vai me livrar desse buraco que meus irmãos me jogaram e ele ainda os punirá!” ou “certamente Potifar vai acreditar em mim, sou justo aos olhos de Deus, não irei para a prisão”, mas nós conhecemos a história e sabemos que era da vontade do Senhor que todas aquelas coisas horríveis acontecessem, para que, no final, o faraó, homem mais poderoso da terra, confiasse o poder de todo o Egito a José, e lhe nomeasse como Zafenate-Panéia, que significa “Deus fala e ele vive”.
Meu intuito aqui não é fazer com que você aceite todas as adversidades sem lutar ou crer em um fim de vitória e bonança, mas que possamos crescer em entendimento e maturidade, sabendo que Deus não perde o controle da nossa vida. Mesmo quando as coisas não terminam como o esperado, mesmo quando há dor e perdas, todas as coisas ainda continuam cooperando para o nosso bem. Quando isso acontecer, estaremos experimentando um novo patamar de adoração, um lugar onde adoramos ao Senhor por quem Ele é e não por aquilo que Ele faz por nós.
Os tempos estão se findando e o inverno chegou. Os dias são de trevas, mas através dos filhos a glória do Deus eterno será manifestada. Que possamos obedecer, mesmo em meio a dor, com a alegria, sabendo em quem temos crido.
Por Jhenifer Vieira Vasconcelos.