“Visto que desprezaram o conhecimento e recusaram o temor do Senhor, não quiseram aceitar o meu conselho e fizeram pouco caso da minha advertência, comerão do fruto da sua conduta e se fartarão de suas próprias maquinações. Pois a inconstância dos inexperientes os matará, e a falsa segurança dos tolos os destruirá; mas quem me ouvir viverá em segurança e estará tranquilo, sem temer nenhum mal” (Pv. 1:29-33).
No retiro de casais de 2008 recebemos uma promessa de que geraríamos um filho e que ele seria parte de uma geração que o Senhor está levantando sobre a Terra. Quase 4 anos depois, estamos vivendo o cumprimento das palavras do Senhor. Lembrei dessa gostosa promessa quando li um trecho da apostila do Seminário “A Casa de Vidro” na página 50 ao qual compartilho:
O Comando Delta é a elite da elite das forças militares dos Estados Unidos e está entre os melhores lutadores e agentes secretos do mundo, porém seus membros jamais querem ser reconhecidos nem receber fama por suas proezas. Por quê? Porque assim que forem conhecidos, não conseguirão mais fazer o seu trabalho. De forma semelhante, o Senhor está levantando um força elite entre os melhores dos melhores da igreja dos últimos dias. Como o Comando Delta, temem o reconhecimento porque comprometeria sua capacidade de realizar sua missão. Eles vivem em função de apenas um propósito – realizar plenamente o que foram colocados nesta terra para fazer. Por isto, seu grande temor realmente é de receberem reconhecimento (JOYNER, 2002).
É evidente que Deus está levantando uma geração que se preocupa com a Sua vontade. Uma geração sem face, com autoridade sobre o domínio das trevas, disposta a pagar um preço de vida pelo amado de suas almas – uma geração que busca à Deus desesperadamente e que tem fome e sede de Sua presença. Esta é a geração que Deus está formando para impactar o mundo com a sua glória e Seu poder. Esta é a geração do avivamento (BRAGLIA, 2003).
Eu sempre sonhei em ter uma família e olhando para trás percebo que o Senhor me deu bênçãos acima da minha expectativa e do meu merecimento. Naquilo que eu dependi da graça de Deus eu sempre fui plenamente atendido.
Porém havia uma expectativa no meu coração que eu não estou vivendo. Eu sonhava que o momento em que o meu filho estivesse para chegar ao mundo fosse um momento onde eu estivesse no auge do meu amor pelo Senhor, e esta não é a minha realidade agora.
Olho para o texto da apostila citado logo acima e sinto vontade de fazer parte dessa geração e também conduzir, em sabedoria, o meu filho pelo caminho que o levará ao mesmo anseio.
Porém, encontro um coração que não acompanha o meu entendimento. Parece que minha mente já compreendeu que posso fazer parte desta geração, que este é o sonho de Deus para mim e minha descendência, mas meu coração ainda não chegou lá, ele ainda não almeja viver esse fim. Ele permanece na inércia.
Se eu desejo de fato ser uma casa de vidro, transparente ao extremo, devo começar admitindo que já amei mais ao Senhor do que amo agora. Não que eu não me importe mais, mas admito que a indiferença já encontrou cantinhos no meu coração. Posso dizer com sinceridade que amo o Senhor. Quando choro não faço nenhum teatro, mas a bem da verdade a intensidade do meu amor já foi maior. Posso cantar sem falsidade o trecho daquela música “Eu sei que não sou perfeito, mas é verdade o que eu te falo…Tú és meu maior amor…” embora o amor esteja aquém do que poderia ser.
Talvez me encontre no mesmo lugar que Pedro antes de negar Jesus. Ele achava que o seu amor pelo Senhor era maior do realmente era, até que o negou e conseguiu enxergar o que se passava de fato em seu interior. O bom de tudo é que Pedro se tornou mais sincero. Ele achou que estava fora do seleto grupo dos “12 escolhidos”, porém o Senhor o mandou chamar e lhe fez 3 perguntas semelhantes, embora com diferentes intensidades: Tu me amas? Pedro respondeu que “gostava” do Senhor. Ele foi sincero de acordo com seus sentimentos, embora desejasse dizer te amo a ponto de entregar a minha vida.
Jesus então lhe acende a esperança dizendo que um dia ele iria amá-lO tanto, que daria a vida por Ele. Esta também é minha esperança. Não apenas voltar ao primeiro amor, mas ultrapassá-lo e ir além. Tendo um amor incorruptível pelo meu amado, pelo meu Rei.
Afastei-me do primeiro amor. O amor intenso ao Senhor é responsável por priorizá-lO, ele nos faz atentos aos desejos do Senhor e nos leva (com prazer) a cumprir a vontade de Deus. Um grande amor pelo Senhor nos leva a um constante esvaziar de si mesmo, faz com que a cruz que temos que carregar não tenha tanto peso.
O QUE ME AFASTOU DO PRIMEIRO AMOR?
O cotidiano nos fez trocar o importante pelo urgente. Desde a volta de Israel/Paris em fevereiro de 2011 passamos um ano exatamente fazendo o processo inverso da busca pela intimidade, deixando que as coisas do nosso dia a dia tomassem conta do que é essencial (priorizar o Senhor).
A culpa não é do cotidiano, ele não é o grande vilão da história. Ele foi a desculpa que eu arranjei. Ele sempre existiu na vida das pessoas, do grandes homens de Deus e também do próprio Jesus. A vida ativa não é um privilégio do mundo moderno. Ela estava presente na vida dos heróis da fé também.
Na Bíblia vemos detalhes da vida de Daniel, que estudava, trabalhava e não abria mão de pelo menos 3 vezes buscar ao Senhor, vemos relatos das inúmeras viagens do apóstolo Paulo, das suas grandes andanças e ainda fazia questão de trabalhar como montador de tendas para não “ser pesado” para ninguém. Gideão malhava o trigo no lagar (lugar da amassar uva), estava trabalhando escondido pelo sustento, foi chamado de valoroso. Jacó trabalhou muito por Raquel, 14 anos de serviço e não parou por aí. Jesus atendeu multidões e ainda assim levantava nas madrugadas quando todos estavam dormindo para ter seu momento com o Pai.
Como disse o cotidiano e a vida ativa não é a justificativa para afastar-se de Deus, mas no meu caso se tornou a explicação (ou desculpa) por me afastar do Senhor.
Trabalhar, estudar, cuidar dos filhos, da casa, pagar contas, viagens à trabalho, atividades sociais, na igreja, enfim…vida ativa. Isto tudo pode se tornar mais importante do que cultivar nosso relacionamento com Deus. Nada é justificável, apenas pode explicar nossa distância. Nada nos separará do amor do Senhor (Rm 8:38-39), apenas nós mesmos podemos empurrá-lo para longe.
SONECA ESPIRITUAL
Sandra Querin descreve uma analogia interessante do recurso soneca do celular com o nosso relacionamento com Deus no livro “A Oração de Moisés”. Sabe aquele recurso do alarme do seu celular, que lhe permite “alguns minutinhos a mais” antes de acordar? Pois é, estamos utilizando este recurso em nossa vida espiritual.
Porque o cotidiano nos afastou do primeiro amor? Porque procrastinamos, porque acionamos o botão soneca da vida espiritual e “empurramos” para frente nossa necessidade de estar e crescer com o Senhor.
Recebemos por e-mail um texto enviado por uma irmã que fala sobre procrastinação e é possível fazer uma estreita relação entre o texto e a maneira como estamos lidando com o Senhor.
PROCRASTINAÇÃO: “É um comportamento crônico nocivo, embora muito comum. É aquele hábito de deixar tudo para depois: uma tarefa “chata”, os estudos, o regime alimentar, as práticas físicas, o abandono de um vício, passar a economizar (acrescento: orar; ler a Bíblia e literatura edificante tais como apostilas de seminários, livros, e-mails enviados pelos irmãos; exercer dons, exercer o chamado; fazer o que Deus nos pede, etc…) – coisas que sabemos que precisamos fazer, mas que, por inúmeras razões, ficamos adiando; muitas vezes nos enganando com desculpas frágeis e, não raro, falsas. O procrastinador é alguém faz várias coisas ao mesmo tempo, exatamente para não fazer aquilo que realmente deve ser feito. Quando pensa no que de fato tem de fazer, sente-se preso e sem reação. As consequências não raro são danosas, especialmente a longo prazo, quando, olhando pra trás, se percebe quanto tempo foi jogado fora por falta de ação objetiva.”.
Você consegue se encaixar nesta descrição? Eu sim e não me sinto bem com isso.
Estamos adiando o trabalhar de Deus em nossas vidas por pouco desejo de fazer um esforço e ir adiante. Não entendemos a necessidade de busca diária em nosso relacionamento com Deus (A Oração do Pai nosso ensina a buscar Sua graça todos os dias – Mt 6:11: “o pão de cada dia” – o pão refere-se não só a necessidade material, mas também ao alimento espiritual). Então vamos esfriando e deixando de cumprir o grande propósito de nossas vidas: Cumprir a vontade de Deus. Foi para isso que entregamos nossa vida, é por isso que deveríamos viver, mas continuamos vivendo para nós mesmos e vendo o tempo passar de forma passiva e acomodada, indiferentes. Satanás ri.
Somos inconstantes, cheios de altos e baixos porque com uma facilidade tremenda deixamos com que a nossa vontade nos domine e permita com que porções de graça se percam, e desse modo, interrompemos o caminhar de glória em glória.
O mundo está nos assistindo para ver se pode confiar no Senhor, Deus escolheu a sua igreja como meio de alcançar o mundo, portanto não há mais lugar para inconstância em nossas vidas, precisamos evoluir.
“A INCONSTÂNCIA MATARÁ OS INEXPERIENTES” (Pv 1:32).
Não quero morrer na praia, ser mais um que vai chegar ao final de vida e ver que deixou de fazer o que é certo; o que Deus queria de mim; o que fui chamado para fazer por qualquer desculpa que eu possa arrumar. Na verdade não quero permanecer “inexperiente” ou “desviado” do caminho que acerta o alvo, quero ser alguém com quem Deus pode contar. Quero ser maduro e constante. Quero ouvir de Sua boca ao final de tudo: “Servo bom e fiel, entra no gozo do teu Senhor” (Mt 25:21).
Em 1 Co. 15:58 a Bíblia diz “Portanto, meus amados irmãos, sede firmes e constantes, sempre abundantes na obra do Senhor, sabendo que o vosso trabalho não é vão no Senhor.”
Vale mais ir devagar e permanecer constante, do que fazer de tudo e ser o mais ativo porém logo a frente retroceder. Prefiro ser perseverante e amar ao Rei, isto sim não me fará desistir. Firme, constante, abundante, este é o sonho de Deus para nós, isso é possível!
AMAR A DEUS SOBRE TODAS AS COISAS
“Conheço as tuas obras, tanto o teu labor como a tua perseverança, e que não podes suportar homens maus, e que puseste à prova os que a si mesmos se declaram apóstolos e não são, e os achaste mentirosos; e tens perseverança, e suportaste provas por causa do meu nome, e não te deixaste esmorecer. Tenho, porém, contra ti que abandonaste o teu primeiro amor. Lembra-te, pois, de onde caíste, arrepende-te e volta à prática das primeiras obras; e, se não, venho a ti e moverei do seu lugar o teu candeeiro, caso não te arrependas” (Ap. 2:2-5).
A igreja de Éfeso era perseverante, se preocupava com a santidade, era uma igreja ativa e tinha discernimento espiritual como vemos no texto acima. Porém abandonou um amor que já tinha sido mais intenso. Em 1 Co 13, no célebre texto sobre o amor, a Bíblia diz que ainda que você venda suas coisas e dê ao pobre ou tenha grande fé, sem amor, estas coisas perdem seu valor.
O Senhor percebe esse esfriar…Ele se importa com isso…
Nós podemos nos enganar se escondendo atrás do nosso ativismo na igreja, nossa dedicação, nosso quebrantar diante de Sua presença manifesta. Enfim todo pacote externo litúrgico que os olhos humanos podem enxergar. Porém Ele sempre enxergará com o coração (1 Sm 16:7). O Seu olhar é diferente…
“Chegai-vos a Deus, e ele se chegará a vós outros. Purificai as mãos, pecadores; e vós que sois de ânimo dobre, limpai o coração. Afligi-vos, lamentai e chorai. Converta-se o vosso riso em pranto, e a vossa alegria, em tristeza. Humilhai-vos na presença do Senhor, e ele vos exaltará.” (Tg. 4:8-10).
Que nossa alegria em saber que Ele estará conosco neste dias difíceis que estão por vir, seja substituída pelo choro de corações arrependidos pela distância já percorrida pelo nosso coração muitas vezes morno. Que o pecado não encontre mais lugar em nossas vidas. Seja este pecado o amor que se esfriou ou algo ainda pior que o Espírito Santo já tem te mostrado.
Que não sejam as coisas deste mundo, que o cotidiano nos traz, que venham a ocupar o nosso coração e arrancar nossa energia, que não venhamos a nos desgastar totalmente por isso. Mas que o Seu Reino e Sua Justiça sejam prioridade. O Senhor não negocia prioridades. Ele quer ser o número 1 em nossos corações. Há um futuro que Ele combinou conosco…
Vamos voltar ao início de tudo?
– Eberson de Sousa