Atrofiados

“Fui ao Eufrates, procurei e apanhei o cinto do lugar onde escondera. Eis que o cinto estava estragado, não servindo para nada. Então, a palavra de Iahweh me foi dirigida: Assim disse Iahweh. Desta maneira destruirei o orgulho de Judá, o grande orgulho de Jerusalém. Este povo mau, que se recusa a escutar minhas palavras, que segue  a obstinação de seus corações, que corre atrás dos deuses estrangeiros para servi-los e prostrar-se diante deles: será como este cinto que não serve para nada. Porque, do mesmo modo como um cinto adere aos rins de um homem, assim eu fiz aderir toda a casa de Israel e toda a casa de Judá – oráculo de Iahweh – para que fossem o meu povo, meu renome, minha honra e meu esplendor, mas eles não escutaram” (Jeremias 13. 7-11).

A compra do cinto pelo profeta Jeremias e o esconderijo na fenda da rocha junto ao Rio Eufrates foi um ato profético de obediência que metaforiza o alto preço da cruz – a compra do salário do pecado do povo de Israel com sangue inocente. Este povo, representado como um cinto foi escolhido por Deus, colocado junto a si e foi escondido como propriedade do Senhor. Porém, conforme a ilustração bíblica, o cinto apodreceu e para nada mais serviu:  com o passar do tempo a casa de Israel atrofiou – não teve reparos ou cuidados e as ações do tempo a fizeram ruim. Como um sinto o velho, o povo de Deus apodreceu. Como apodreceram?

“Este povo mau, que se recusa a escutar minhas palavras, que segue a obstinação de seus corações… (Jeremias 13.10)”.

Atrofia é resultado de inação. O corpo padece sem ação do organismo vivo – sem sangue vertendo nas veias, sem ar, sem água, sem movimento… Atrofia é paralização.

Existe um mandamento único explicitamente anunciado por Jesus Cristo: “Ide, portanto, e fazei que todas as nações se tornem discípulos, batizando-as em Nome do Pai, do Filho e do Espírito” (Mateus 28.19). A regra sempre foi anunciada: “Ide”. “Ide?” Para onde? Para as nações? Para onde Senhor?

O “ide” é ação do Espírito sobre a Igreja. A falta do “ide” a atrofiou. O motivo? Obstinação. O diagnóstico? Esperar em Deus. A medida paliativa: falta de direção do Senhor. Vejamos:

Jesus Cristo, em suas últimas palavras não se apoderou do uso das parábolas. Ele foi enfático ao afirmar aos que ficariam na terra e falariam de Seu Reino – VÃO! Foi simples. Hoje, porém, temos visto uma igreja sem o “ide”. Todos os grandes movimentos denominacionais existem, pois em outros séculos atenderam ao “ide” e povoaram as nações com a Palavra de Deus. Mas no dia que se chama hoje onde está o “ide”? Como falei, ele atrofiou pela obstinação.

A obstinação é a causa da cegueira de muitos. A raiz de todo totalitarismo está na obstinação – e ela anda junto com a religiosidade. A religiosidade opera no espírito da pessoa e a aprisiona. A obstinação, porém, atua na carne. Ela é ferrenha. A obstinação quebra relacionamentos, endurece o coração, não dá a outra face por amor, não pondera, julga, acusa, não oferece medidas, cria leis, dita regras, é autoritária e se torna incontestável. Ela é a trave nos olhos de muitos que enxergam ciscos nos olhos de outros.

A obstinação não vem de Deus. Ela atua pelo espírito de homem que o faz perder a essência de Deus para todos em uma comunidade (ou em sua vida diária e pessoal) para que vivam bem com as “leis de Deus” – como um estilo de vida. Tudo o que foge ao alcance daquilo que se tem como pensamento correto, está errado. Não é ponderado. O diferente, o não usual e o que foge a padrões estereotipados não é levando em conta. A obstinação é raiz de racismo espiritual, preconceito e ciúme.

Todavia, os evangelhos mostram que em nenhum momento Jesus Cristo, Meu Filho, estipulou regras ou leis. Ele mesmo disse que veio para se tornar a maldição da lei. Ao invés de impor, Ele viveu. A sua vida é o exemplo a ser seguido. Ele veio e enfrentou um grande câncer espiritual que estava sobre o povo de Israel: a obstinação.

Jesus foi o diferente, não veio como o rei usual e comum, quebrou as regras impostas. Pode-se passar horas listando todas as ações de Jesus que deixavam qualquer judeu de cabelo em pé. Ele não veio no modo dos homens, ele se tornou homem e agiu melhor que todos eles. Ele é o exemplo de vida para todos os que são de Deus e Ele, sendo exemplo, trouxe uma direção: “ide”.

Sem percebermos estamos contra o “ide” pela obstinação dos nossos corações. Estamos obstinados pela forma que entendemos “ser correto” agir. A igreja está atrofiada, pois ao invés de receber a ação do Espírito Santo, está parada ponderando a situação local, regional, social e individual de como o Espírito Santo pode e deve agir – analisando o modo pelo qual agiu no passado. Quando Jesus veio não houveram táticas, não falou de estratégias, não trouxe metodologias de estudos de campo, ele trouxe apenas a direção: vão.

A Igreja não “vai”, pois está obstinada no modo correto de viver e alcançar as bênçãos de Deus.  Muitos são os motivos que impedem o “ir” da Igreja:

  • Pecados passados (acusação da vida passada)
  • Pecados sexuais
  • Pecados na mente
  • Roubo de Deus (dízimo e ofertas)
  • Falta de recursos (dinheiro)
  • Relacionamentos (casamentos, amizades, etc).
  • Falta de fé
  • Preguiça
  • Medo
  • Inconstância
  • Orgulho
  • Apego a bens materiais
  • Apego a estabilidade financeira
  • Dúvida do agir de Deus
  • Dúvida da existência das palavras proféticas
  • Desleixo
  • Relapso
  • Duvidar das tochas
  • Duvidar das armaduras de Efésios 6
  • Duvidar das verdades das montanhas
  • Duvidar dos seus pastores
  • Duvidar dos ensinos bíblicos
  • Julgamento
  • Crítica
  • Não crer na existência de grande nuvem de testemunhas
  • Não ter a revelação da eternidade
  • Não acreditar em atos proféticos realizados pela Igreja
  • Não entender que o Apocalipse é real e que já começou
  • Não entender as 70 semanas do profeta Daniel
  • Paixões da carne (zonas de conforto)
  • Não ter aprofundamento Bíblico em sua vida (testemunho da palavra)
  • Não ter relacionamento com Deus e com Seu Espírito Santo
  • Descrer da sua importância como agente de transformação no reino
  • Espírito de autocomiseração
  • Julgar as coisas simples e tolas (roupas, músicas, televisão, internet)
  • Se julgar incapaz
  • Se julgar indigno
  • Se julgar injusto
  • Não querer crer que este chamado é seu (o “ide” é para todos)
  • Competição
  • Tantos outros.

Todos estes itens são desculpas da alma enraizadas pela obstinação. Nenhum destes motivos são reais motivos que impedem o “ir” da Igreja de Deus. Como se pode perceber são inquisições sustentadas pela obstinação. Para não serem tratados, eles possuem o diagnóstico conhecido como “esperar em Deus”.  O “esperar em Deus” é uma acomodação da alma que impõe um modo correto para que o chamado por Deus ocorra de um jeito esperado num momento em que tudo estiver resolvido. Por exemplo: sobrar dinheiro, receber tal quantia, esperar os filhos crescerem, nas próximas férias planejar algo para o reino, esperar a cura de uma doença, pagar as dívidas, ser levantado pastor, ministro, diácono (ou qualquer outra função), ser visto pelo pastor, ser mais amado por Deus, se tornar mais apaixonado por Deus, esperar receber mais fé e tantas outas desculpas aqui podem ser listadas.

Como esta “espera em Deus” nunca termina, uma medida paliativa é usada como a rainha de todas as desculpas: a falta de direção do Senhor. Não temos “ido” porque estamos sem rumo – sem direção. Deus não nos disse para onde devemos ir. Será?

“e fazei que todas as nações se tornem discípulos…” (Mateus 13.19).

A regra é clara: Ide às Nações. A direção é: vidas! Povos! Tribos! Raças! Comunidades! Centros cívicos! Governos! Escolas! Hospitais! Faculdades! Cultura! Arte! Entretenimento! Saúde! Comunicação! Igrejas! Cidades! Estados! Países!

Obstinados

Não vamos, pois estamos obstinados. Obstinados porque entendemos que o único modo correto de ir é o que chamamos de “missões”. Para ir eu preciso ser um missionário, viver como um missionário ou ter muito dinheiro e ser sustentado. Isso não passa de desculpa. Como visto, não há na Bíblia inteira nenhum modo pelo qual Deus mostra uma metodologia correta para o “ir”. Não vamos, pois estamos “esperando a maneira certa de ir”, e cremos com convicção que ela existe. Onde? Não sabemos.

Tudo não passa de obstinação. Não vamos porque estamos obstinados em não querer ir.  Para ir o preço é alto, é tomar a cruz de Cristo e seguir em frente. A obstinação cria regras e intolerâncias individuais e até coletivas que nada tem a ver com o evangelho.

Toda a forma de ir que foge aos padrões comuns de missões são vistas como formas erradas. Mas qual é a correta? A verdade é que a igreja está atrofiada, pois parou de buscar a orientação da direção de Deus para as nações. Para muitas pessoas sair de suas casas, viajar e levar as tochas não passa de viagem – entendem que isso não faz parte do “ide”.

Não existe um modelo limitador do “ide” – o “ide” é a ação do Espírito sobre a igreja. O “ide” é a salvação.  Ela só vem por meio de Jesus Cristo. Toda e qualquer forma de levar Cristo e as causas do Reino de Deus para as pessoas é “ide” e não existe “o único  modelo correto de como levar Cristo às pessoas e realizar atos profético que antecipem a sua vinda”. Tudo é válido. Tudo! Repito, tudo!

E se este tudo incomoda a você é porque você é um obstinado na sua forma de pensar. Não existe outro motivo: você é um racista espiritual e preconceituoso. Tudo é tudo! Você pode dizer: mas eles não possuem discernimento de espíritos, eles não tem noção do que estão fazendo, eles estão se igualando ao mundo, eles estão desrespeitando as tradições, eles não falam como homens de Deus… A pergunta é: você fala? Você tem discernimento? Você sabe bem o que faz? O que você faz? Onde está você agora?

Aqueles que não falam a sua linguagem ou não “vão” do modo pelo qual você acha correto ir, são menosprezados por você por um julgamento e crítica fundamentados em suas próprias doutrinas.

Você critica o modo de quem está “indo”, você fala mal de quem está chegando lá. Você critica até o estilo de vida de quem está “indo”. E você? Está parado por quê? Nós estamos obstinados no nosso modo de pensar. Tudo o que foge do comum, do arbitrário, do religioso, do dominical, é tido por nós com estranheza.

Assim estamos nós como nos dias de Cristo: Ele veio para os Seus, mas os Seus não o aceitaram porque Ele foi demais além do esperado. Ou melhor, ele não veio como o esperado. Ele não veio como estava acordado entre os fariseus. Mas Ele veio. Ele veio! Isto basta. Isto mudou sua vida. Isto mudou o mundo.

Sem mais palavras, a mensagem é objetiva: Vá! Isto basta! Isto muda o mundo. Vá!

 

_ Pr. Israel Braglia

 

Igreja de Florianópolis – Proclamando a Verdade

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *