Quem vai querer ler este texto?

Aventuro-me a começar este estudo com esta pergunta. Confesso que esta ideia não foi de todo minha. Me inspirei nas Chicas. As Chicas são um grupo que reúne uma pluralidade de sons e ritmos brasileiros que em 2007 lançou o álbum com um dos nomes mais engraçados e criativos que já vi: “Quem vai comprar nosso barulho?”. A versão “me deixa” d’O Rappa criada por elas é fascinante e recebeu muitos elogios.  Por mais que não sejam muito conhecidas, elas saíram do anonimato quando uma das suas músicas foi tema da novela das 7, Caras e Bocas de Walcyr Carrasco e direção do Jorge Fernando na TV Globo em 2009. Foi uma bela e envolvente novela, daquelas que quando acaba, dá vontade de ver tudo novamente.

O que é mais interessante nisso tudo não é o repertório das Chicas e nem as músicas das novelas. Mas sim, o fato de que muitos neste momento podem estar um tanto quanto perplexos e fazem algumas reflexões do tipo: “primeiro, ele escuta músicas do mundo. Segundo, ele assiste novela. Isso não é pecado?”. Estes preconceitos que cercam os cristãos dos últimos dias são sustentados pela religiosidade e pela tradição da falsa santidade. A lei da doutrina dos homens vale mais que a Verdade. Quem nunca assistiu a um filme ou quem nunca foi ao cinema, quem nunca assistiu TV, que me atire a primeira pedra!

Não estou acusando as atitudes, mas o sistema. Com esta metáfora vivida por mim, aponto que estamos cercados por uma falsa santidade e nos preocupamos demasiadamente com as coisas fúteis e tolas, do tipo “é proibido ver novela” enquanto que, aquelas que deveriam ser motivos para nos tirar o sono, nem sabemos que existem ou preferimos encobri-las. Mas a verdade é que não sabemos responder a grande pergunta que Leonard Ravenhill nos fez no século passado: “Por que tarda o pleno avivamento?”

Quando comecei a escrever este estudo, pensei comigo mesmo: Quem vai querer ler? Desculpem-me a sinceridade, mas cheguei numa trágica máxima – escrever cansa, ler é um saco e pensar dói – este é o meu pensamento e pode ser também o seu e o de muitas pessoas, não generalizando, mas de outros muitos “crentes”. Então concluí que é muito melhor ser um crente opaco, que assiste a TV durante a semana (mas finge que não vê), que vai aos cultos no domingo (e finge que está tudo bem) e que entende da vida alheia, do que ser aquele que tenta, de alguma forma, vencer o comodismo. É muito mais fácil ser um desses crentes que vive a enfadonha vida rotineira, que lê esses devocionais de cinco minutos e que tem a resposta pra tudo na ponta da língua, como: “Jesus é a resposta!” ou “a fé é crer no impossível”, “A-L-E-L-U-I-A-S!”, “Glórias!”, do que ser um verdadeiro discípulo de Cristo. Vocês, leitores, não concordam?

Mas a palavra não diz que Jesus é a resposta para tudo, mas diz que Ele possui a resposta, pois dEle vem a resposta (Pv. 16.1). O autor de Romanos declara:

“Ó profundidade da riqueza da sabedoria e do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e inescrutáveis os seus caminhos!” (Romanos 11.33).

Para entender o conhecimento de Deus e compreender a Sua sabedoria é preciso gastar tempo pensando, analisando e buscando o Deus de toda verdade. Provérbios 8 nos diz que desde a eternidade a sabedoria estava ao lado de Deus como a “Sua delícia, ela era o Seu prazer”. O Espírito Criativo se move desde sempre. Ele é o Espírito da verdade que mundo não pode ver. Este espírito está apagado e ele é a resposta para a pergunta de Ravenhill. Entretanto, muitas respostas já foram dadas. Nenhuma atitude eficaz foi tomada (pelo menos até agora).

As escrituras nos alertam: a criação anseia pela manifestação dos filhos de Deus (Rm. 8. 19). Então, parando para olhar para a atual situação dos “filhos de Deus” onde eu me incluo, deparei com o seguinte estado – a manifestação que compartilho a partir de agora.

Fui a uma livraria evangélica a fim de encontrar algo que me edificasse profundamente, ou que, em últimas instâncias, me ajudasse com este estudo que escrevo. Lá, me deparei com muitos títulos no estilo “A oração do fulano: 10 passos para obter uma resposta”, “Estratégias de crescimento para a sua igreja”, “A igreja dos seus sonhos”, “Deus quer você milionário, rico e famoso”,“7 pilares da sabedoria de Deus na empresa”, “Se Jesus vivesse hoje, ele usaria o marketing como ferramenta de promoção do evangelho”, etc. Não encontrando nada muito edificante, fui para a internet em sites evangélicos e me deparei com as notícias e estudos bíblicos com temas no estilo: “Pastor acusa pastor”, “Fulano é contra a homofobia”e “Crentes odeiam gays”, “Bispo diz que cair no Espírito é obra do diabo” ,“O mercado gospel é o que mais cresce no ano” e por aí vai…

Então cheguei a uma firme convicção: alguma coisa está errada, a visão do Reino de Deus está enfraquecida. É impossível haver qualquer manifestação de Deus através de Seus filhos sobre a criação do jeito que estamos. A solução então, por mais que seja triste, ainda é deixar a criação esperando… Aguardando… Esperando… E aguardando mais um pouco, até que alguma coisa mude na igreja. Ou melhor…

Até que eu mude! – essa é a verdade.

Chan (2010) cita que a irrelevância da igreja em muitos lugares e apatia de seus membros podem ser creditadas, em boa medida, ao desprezo pela ação do Espírito Santo. Igrejas que se renderam ao simples ativismo e à espetacularização do culto, no fundo, não passam de um mero agrupamento de pessoas cuja aparência esfuziante oculta a ausência de Alguém que não está sendo convidado para a festa.

A igreja primitiva não é mais o modelo bíblico aplicável e o sucesso e crescimento passaram a ser a “perfeita vontade de Deus” para o homem. Entretanto, onde estará o compromisso com a verdade? Para onde ele foi? Alguém viu? Alguém já ouviu falar dele? Na livrarias que eu fui nada encontrei de recente sobre o assunto.

Mas a vida continua e eu me juntei a Ana Carolina e comecei a cantar (dentro do carro):

Não vou viver, como alguém que só espera um novo amor
Há outras coisas no caminho onde eu vou
As vezes ando só, trocando passos com a solidão
Momentos que são meus e que não abro mão
Já sei olhar o rio por onde a vida passa
Sem me precipitar, e nem perder a hora
Escuto no silêncio que há em mim e basta
Outro tempo começou pra mim agora

Definitivamente, outro tempo começou para mim agora! Já sei olhar o rio por onde a vida deve passar, esse Rio está em Ezequiel 47 e flui do trono do meu Rei. Não vou mais viver à espera do novo, antes vou lutar para vencer o marasmo da rotina, e mesmo que eu me sinta sozinho, existe um Deus que zela por mim e que me conduzirá ao ribeiro das águas tranquilas, que refrigerará a minha alma e que matará a minha sede por mais Dele, mesmo em meio ao caos atual, mesmo em meio às acusações e mesmo em meio ao tédio. Vencerei a preguiça e darei ouvidos ao Espírito Santo.

Francis Chan (2010) disse:

“Se eu fosse satanás e meu objetivo final fosse frustrar os propósitos de Deus e seu reino, uma das minhas principais estratégias seria levar os frequentadores de igrejas a ignorar o Espírito Santo”.

Não é por falta de livros que o povo de Deus ignora o Espírito Santo, é por preguiça. Mas conforme Chan há outros motivos para isso. Muito já se escreveu e se falou sobre a terceira pessoa da trindade. Contudo, a visão estereotipada e falsa do Espírito (propriedade exclusiva dos carismáticos, ou ilustre desconhecido dos conservadores) persiste entre um grande número de cristãos. Mas a questão não pára por aí. O puro desinteresse pelo compromisso com Deus e o próximo tem alimentado a negligência para com o Espírito.

Desse modo, atendi ao Espírito que falava dentro de mim: “escreve” e assim, tomei a decisão de vencer o pessimismo do meu pensamento de que “escrever cansa, ler é um saco e pensar dói” – e resolvi encontrar em Deus a razão para continuar a lutar pelo Seu Reino e pela Sua vontade até que Jerusalém seja estabelecida como objeto de louvor na Terra, que a Igreja seja chamada por um novo nome e que o sol da justiça nasça sobre as montanhas de Sião.

Foi assim que nasceu este estudo. Mas para esta jornada, optei por não estar sozinho. Me juntei aos pensamentos e escritos de pastores, mestres, teólogos, filósofos, ministros de louvor, psicólogos, professores interdisciplinares, autores que admiro e autores anônimos para pensar, questionar e refletir sobre esta situação que estamos vivendo (ou que alguns de nós perceberam que estamos vivendo): marasmo, seca, futilidade, rotina e a falta do tão esperado avivamento.

Não sou um justiceiro e nem estou aqui para apontar erros ou julgar atitudes, mas também não quero ser mais um na multidão. Não quero que a minha geração continue no erro da geração anterior. Está na hora de mudarmos esse quadro. Está na hora da verdade imperar sobre a igreja, está na hora da ação.

O Espírito Santo é criativo e inovador. A palavra diz que o Senhor faz novas todas as coisas e que as Suas misericórdias se renovam. Precisamos de renovo. Precisamos matar a nossa sede com a água da vida. Precisamos vencer a mesmice dos “cultos sempre iguais”. Precisamos de avivamento. Precisamos trabalhar! Como diz a canção: O caminho é árduo pra você trilhar, não se deixe enganar, ainda existe uma cruz, ainda existe um preço a pagar! Vamos juntos?

Israel Braglia.
Texto de introdução do seminário “A casa de vidro” em janeiro de 2012 na Igreja de Blumenau.


© 2005. Diante do Trono. Ainda existe uma cruz.

 

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