Quem se habilitará à renovação?

 

 

Apelos religiosos não são suficientes nessas eleições, é preciso renovação diante de Deus

 

Em época de eleição é muito comum se ler “Quando os justos governam, alegra-se o povo; mas quando o ímpio domina, o povo geme” (Provérbios 29:2). Muitos políticos tomam este versículo bíblico como bandeira para se apresentar como “justos” perante a igreja e assim conseguir votos. Não é a campanha ou a política que faz do povo alegre e triunfante, mas a ação diante de Deus. O Salmista já dizia “Feliz a nação cujo Deus é o Senhor” (Salmo 3:12). Nessas eleições que se aproximam, não adianta focarmos nas ações religiosas dos candidatos, nos seus argumentos, propostas e acusações partidárias, mas nas suas ações diante de Deus – e mais, orar e interceder para que Deus seja o Deus de nossas cidades e municípios, independente dos homens no poder.

A igreja evangélica com todo o seu aparato sempre levanta vereadores, deputados, governadores, etc. Em nossa cidade já até tivemos um vice-prefeito bispo evangélico. Mas como se diz “mudaram as estações e nada mudou”. Um cristão no poder não significa Deus no poder. Um partido cristão não significa justiça.  Conforme Fernando Abrucio, colunista de Época e professor na FGV, todos os partidos já se aliaram com Deus e com o Diabo para ganhar eleições.

A questão não é religião e nem política, mas renovação – esta é a questão para Fernando Abrucio, na qual, segundo a sua última coluna na revista*, entra aqui em questão para reflexão. Apodero-me, assim, de suas palavras para ponderar o que muito em breve veremos rechear a mídia: as campanhas políticas.

Para Abrucio, o ponto central de um debate baseado na renovação deve estar nas políticas públicas (e não nas campanhas políticas). Para começar, os candidatos deveriam dizer como reformariam a carcomida máquina pública. Há muitos cargos comissionados, distribuídos sem controle ou accountability. Ele conclui que, no fundo, se quiserem concorrer sob o signo de  renovação, os candidatos terão que passar por uma revolução administrativa.

Desse modo ele apresenta três temas que merecem a atenção dos candidatos, aos quais me dei a liberdade de adaptá-los para a realidade de Florianópolis:

  1. A qualidade dos serviços públicos na cidade. A morosidade na saúde tornou-se uma triste sina para os mais pobres. A obtenção de alvarás e todos os meios documentais alicerçados em propinas é outro problema. Em um novo milênio, convivemos com padrões administrativos do século XIX.
  2. O conhecimento. Florianópolis é uma cidade promissora com a espera de implementações e melhorias de parques tecnológicos. Muitas empresas encubadas se alojam por aqui. A produção intelectual da cidade e as pesquisas desenvolvidas no setor acadêmico público e privado são internacionalmente conhecidas, mas por outro lado, a educação de base deixa a desejar.  Os mais ricos conseguem acesso a padrões escolares e universidades de alto nível, enquanto que, outros precisam se contentar com o ensino nos bairros e a falta de acesso à faculdade.  Mais do que melhorar a educação, é preciso transformar Florianópolis na cidade do conhecimento, fazendo o mundo a reconhecer por tal característica. Isso não é simples.
  3. Trânsito – cada vez mais caótico. As candidaturas devem estar atentas a uma nova questão que gera controvérsias: ciclovias. Muitos se opõem à ideia, outros a abraçam como estilo de vida. Moro no centro e percebo que o uso de bicicletas cresce a cada dia, mas não há ciclovias. Dou aula em duas universidades e vejo alunos chegando de bicicleta. Alguns alunos reclamam do perigo que correm ao andar de bicicleta próximo a carros, ônibus e caminhões.  É preciso criar ciclovias de modo que não afetem ainda mais o trânsito de automóveis na cidade.  Além disso, o acesso à ilha precisa ser repensado. Muitas propostas foram feitas, poucas tiveram algum sucesso e nenhuma foi implementada. O trânsito continua parado.  Por fim, já está mais do que na hora de se repensar o transporte público somente com ônibus. Novas propostas devem ser emergencialmente apresentadas nessas eleições.

A melhor solução será a redução do deslocamento de cidadãos entre casa e trabalho e a redução do valor de passagens do transporte público. Além disso, é preciso revigorar o centro, melhorar o acesso às praias, eleger programas sustentáveis de preservação ecológica, aumentar o conscientização de sustentabilidade  e levar desenvolvimento aos bairros mais carentes.

Tudo isso é muito fácil de listar. Difícil será acabar com as resistências das oligarquias distritais que tomam conta da Câmara Municipal. Lá estão as maiores guerras para o desenvolvimento da cidade. O bom prefeito não será aquele que terá “costas largas” ou boa parceria partidária, mas aquele que, vencendo estes obstáculos, vencerá também a oposição.

Que candidato trará essa questão para a campanha? Conforme Abrucio, eis aí o maior obstáculo à inovação.  Se quisermos renovação, é preciso foco em inovação e conhecimento. Não bastam propostas ou se apresentar como “enviados de Deus ao poder”, é preciso ação diante de Deus e dos homens. Quem se habilitará? – é o que estamos esperando para ver. Fica a dica.

– Israel Braglia

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(*) Revista Época edição 739. 16/07/12

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