“O amor é paciente, o amor é bondoso. Não inveja, não se vangloria, não se orgulha” (1 Coríntios 13:4).
Existe uma íntima conexão entre 1 Co 13, as cartas a Timóteo e o sermão do monte. Essas passagens têm em comum o ensino de que, se não amarmos, nada do que fizermos será útil aos olhos de Deus, mesmo que impressione multidões e atraia grandes honras de homens. Como escrito acima, não se trata de simplesmente fazermos as coisas com amor, e sim de amarmos em todo tempo – mesmo que estejamos sozinhos. Quando esbravejamos e murmuramos contra as circunstâncias, ainda que não haja alguém por perto estaremos descumprindo 1 Co 13, pois quem ama não se ufana e nem busca seus próprios interesses. “Ufanar-se” significa “envaidecer-se”, “honrar-se”, “pavonear-se” e “agradar-se”. Quem assim se porta “recalcitra contra os aguilhões”, como diz a Palavra, ou seja, age com um misto de justiça própria e orgulho, considerando-se não merecedor de enfrentar situações adversas.
Buscar honras para si mesmo não necessariamente significa assentar-se em um trono e desejar bajulações, mas pode traduzir-se em um simples ato de murmuração. Nada do que esse indivíduo fizer, por mais grandioso que seja, valerá – pois não haverá amor. Murmurar contra circunstâncias é diretamente deixar de amar a Deus, pois revela um coração que se considera superior Àquele que permitiu ou provocou tais adversidades (ironicamente, Deus usa adversidades justamente em amor, para nos tornar mais fortes, sábios e parecidos com Ele).
Uma das principais medidas de nosso galardão está condicionada a quão parecidos com Jesus nos tornaremos até o Grande Dia, isto é, o quanto amaremos. Do mesmo modo que não nos é confortável sentarmos à mesa com quem não temos afinidade, Deus chamará para perto, na eternidade, aqueles que aqui lhe foram idôneos, que buscaram semelhança com Ele na Terra, que amaram. O relacionamento com Deus, que muitas vezes se expressa e se concretiza no relacionamento com as pessoas, é a grande chave da eternidade, o grande ministério. É como se, relacionando-nos com as pessoas, estivéssemos relacionando-nos com Deus. Como estamos exercendo este ministério?
O sermão do monte aconteceu quando Jesus parou tudo para ensinar o amor na prática. Não há nada mais importante que o amor. Nada. Uma vida sem amor é uma vida perdida. Sabemos que amamos quando percebemos que nossos interesses, caprichos, preciosismos e manias pouco importam diante do próximo. Sabemos que amamos quando percebemos que não há arrogância e inveja em nós. O amor nos deve ser revelado. Devemos buscar batismo de amor.
O amor foi banalizado e, assim como a Deus atribuíram falsos conceitos, também o fizeram com o amor. A mídia, a sociedade e certas tendências contemporâneas o deturparam. Muito do que a humanidade debate e do que os artistas compõem sobre o amor não se refere ao verdadeiro amor. O amor ágape é a arte de morrer para si e viver para Deus. O amor fileo é a arte de morrer para si e viver para o próximo.
Amor, acompanhado de discernimento, fortalece a igreja. O homem é falho e, se apenas amar, pode correr o risco de se enganar. Se o amor bastasse por si só, ele seria a única parte do fruto, ou o único dom. Por isso, na vida da igreja deve ser amadurecido e exercitado o dom de discernimento de espíritos, que ensina o crente a exercer o amor sobremodo excelente.
O amor é um estado de espírito, uma pré-condição do coração para que então venha o serviço. Não servimos para amar, mas amamos para que então sirvamos. O amor é 24/7, o servir não. O serviço deve ser executado tendo o amor como pano de fundo, e não o amor deve ser exercido tendo o serviço como pano de fundo.
Frequentemente, quando nos sobrevêm a sensação de não estarmos rendendo o máximo ou de que algo está faltando, é por haver pouco amor. Com o amor, tem-se plenitude. Se estamos impregnados do amor de Deus, se O amamos com Ele nos amou, consequentemente cumpriremos a Sua vontade. É inevitável. Correr atrás de cumprir a vontade de Deus e de ver Seus planos se concretizarem, sem amor, é vaidade. Tudo é vaidade sem amor. Sem amor, tudo o que fazemos é correr atrás do vento. Vidas inteiras se gastam e se desperdiçam correndo atrás do vento pelo fato de não amarem. Buscar o reino em primeiro lugar é buscar com zelo os melhores dons, é buscar o amor. Tudo nos é acrescentado quando amamos. Tudo coopera para o nosso bem quando amamos.
Sempre que me imaginava tendo a oportunidade de ensinar, era difícil escapar do tema “A cruz e as vontades plena e permissiva de Deus”. Mas, em um simples momento de atividades corriqueiras em Jerusalém, veio-me o entendimento de que, aos puros olhos de Deus, o cumprir de Seus desígnios sobre o homem pelo simples cumprir não é a coisa mais importante. Além disso, nossa cruz não significa renunciarmos desejos para cumprir a Sua vontade. O tão falado “cumprimento da vontade plena”, para Deus, não é o mais importante. Existe uma dinâmica nos céus que voluntariamente se condiciona às nossas escolhas. Basta um relance para Deus fazer com que o amor passe por cima da Sua própria vontade. Precisamos estar pelo menos um pouco a par dessa dinâmica celestial para que enxerguemos melhor o coração de Deus:
Ao homem pertencem os planos do coração, mas do Senhor vem a resposta da língua.
Consagre ao Senhor tudo o que você faz, e os seus planos serão bem-sucedidos.
Quando os caminhos de um homem são agradáveis ao Senhor, ele faz que até os seus inimigos vivam em paz com ele.
Em seu coração o homem planeja o seu caminho, mas o Senhor determina os seus passos.
(Provérbios 16.1,3,7,9)
Quando Deus renova a nossa mente através de um maior conhecimento da Verdade, é como se mudasse a nossa língua materna. Nossa linguagem com Deus muda quando Ele nos mostra uma conclusão que se opõe ao que havíamos sempre considerado natural e correto. A busca por “viver a vontade plena de Deus” é a maior tarefa concedida pelo Senhor a um servo, mas não a um amigo. Para os amigos de Deus, “amar” é um objetivo maior do que “viver a vontade plena”, e para eles é isso o que a cruz significa. A cruz é a “madeirização” do amor e se manifesta quando nos colocamos abaixo de todos, desejando o bem do próximo mais do que desejamos o nosso. Se achamos fácil amar, ou nascemos imensamente agraciados por Deus ou nunca tentamos de fato amar. Em meu caso, sempre considerei a vontade plena como a tarefa mais difícil e importante por nunca ter achado difícil amar. Não por ter sido naturalmente agraciado quanto ao amor, mas por nunca ter tentado. Até este encontro com o Senhor, eu achava que amava – Ele agora revelou meu coração. O conhecimento da verdade acerca de mim mesmo me libertou e curou, e a partir dali comecei o caminho de enxergar as pessoas segundo o seu destino, segundo quem elas realmente são. Lembre-se da Jericó espiritual: o Senhor deseja compartilhar os Seus olhos de fogo conosco! Ele deseja que tenhamos olhos de paixão por cada um.
Amar nos faz conhecer o coração de Deus. O amor é um mistério de Deus que anseia ser desvendado por aqueles que O buscarem. O amor é uma chave que descortina o futuro combinado entre Deus e o espírito do homem. Não sabemos o que Deus combinou com nosso espírito antes da fundação do mundo, mas o amor desvenda esses planos e nos faz viver cada um desses combinados. O amor é a única chave para a vontade plena de Deus, pois não haveria como a vontade de Deus se cumprir plenamente sobre alguém sem amor. Buscar essa vontade sem que se ame é como dar óculos a um cego. Não faz o menor sentido. O amor é condição necessária e, digo, junto à fé e à obediência, suficiente para a completude de Deus em nós.
Gabriel Ferrari – Professor universitário e ministro de louvor
Nação dos Montes – Unidos pelo mesmo amor, Jesus